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Democracia em vertigem

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Quase esquecido pela grande mídia, o documentário Democracia em Vertigem, de Petra Costa, foi um dos cinco indicados ao "Oscar" deste ano. A princípio, o título parece estranho, pois "vertigem" é quando uma pessoa sente que ela ou os objetos à sua volta estão se movimentando, quando não estão. Assemelha-se a uma sensação de desequilíbrio. Porém, quando aplicado à reviravolta política do Brasil pós impeachment, o termo faz todo o sentido.

Ao observador dos avanços democráticos pós ditadura militar, a sensação é a de que o país virou de ponta cabeça. Nada mais se encaixa dentro da linha do tempo que vinha sendo seguida pela nação. Imagine uma jovem de 30 e poucos anos, cujos pais foram presos e torturados na época da ditatura. Sob a lente de sua câmera, ela registra a posse de Dilma Rousseff na Presidência, coroando os dois mandatos de Lula, que deixou a Presidência com 87% de aprovação. Era o reconhecimento de um governo que promoveu um fato inédito: a redução da desigualdade social.

De repente, o movimento retrocede rapidamente. Tudo parece de pernas para o ar numa sensação de desequilíbrio que se assemelha a uma vertigem. A jovem, aturdida, registra a reeleição de Dilma e a não aceitação da vitória pelo adversário - mote para que as forças conservadoras começassem a agir. Mesmo fazendo concessões e cedendo à pressão da Fiesp para mudar a política econômica, Dilma não consegue governar. Usando como pretexto as manifestações de rua, a presidente sofre pressões do Congresso para renunciar. Um pedido de impeachment é aceito pelo presidente da Câmara.

A partir daí, a lente parece perder o foco. Nunca se registrou um episódio em que a falta de moralidade pública e as traições estivessem presentes na proporção que precedeu à queda de Dilma. Os lobos com pele de cordeiro devoraram a nossa frágil democracia. A direita, que não conseguiu chegar ao poder pelo voto do povo, decidiu que "ganharia no tapetão". Os dias de Dilma como presidente estavam contados. Desde a posse que o vice não pensava em outra coisa que não fosse tomar o lugar de Dilma. Idem os deputados aliados, que salivavam por verbas e cargos prometidos como paga da traição!

O resto da história é conhecido. Dilma foi deposta, mas não foi cassada. Não encontraram nada contra ela. Usaram um motivo burocrático em que nenhum ganho pessoal tinha a presidente (as "pedaladas") para tirar o seu mandato. Fato de 2014 que, aliás, nada tinha a ver com o 2º mandato de Dilma (2015). Lula, denunciado por delatores, foi preso e não concorreu às eleições de 2018. O ciclo se fecha: o golpe político foi consumado. Teve um desfecho inesperado com a eleição de Bolsonaro. Mas a imagem que fica de Dilma é a de vítima. Aqui termina o documentário.

E onde andarão seus algozes? O presidente da Câmara (Eduardo Cunha) está "mofando" na cadeia e, pelos processos que tem, ameaça nunca mais sair de lá. O vice (Michel Temer), faz o que mais sabe fazer - se fingir de morto. O presidente do TCU na época (Augusto Nardes) que denunciou Dilma, foi denunciado em 2015 pelo MP através da operação Zelotes, que apurou fraudes nos julgamentos do Carf (órgão de recursos das multas da Receita). Ele teria participado de um suposto esquema para ajudar a RBS a anular uma multa de quase R$ 600 milhões no Carf. O processo acabou arquivado pelo STF. 

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